A garota abandonou os estudos acadêmicos por motivos que desconhecemos, todavia, aparenta ser muito talentosa na arte da Nomeação (ramo do conhecimento em que o Nomeador sabe o nome secreto das coisas e pessoas podendo, assim, controlá-las). Esse tipo de magia é tão poderosa que pode levar ao desequilíbrio mental e, possivelmente, foi isso que aconteceu com nossa protagonista. Esta, de acordo com as palavras do próprio autor, é uma pessoa danificada ("broken") que refugiou-se do mundo exterior.
Em tal refúgio, vemos essa moça peculiar e interessante viver em harmonia com as coisas e os ambientes, tentando compreender a essência de tudo e respeitando o equilíbrio do mundo que a cerca. Os objetos e os aposentos, embora a princípio inanimados, surgem como coadjuvantes dessa novela, uma vez que Auri lhes confere sentimentos e personalidade, numa interação semelhante à loucura, mas que na verdade vai além desta.
Para quem não leu os outros livros da série, essa história vai parecer tratar-se, simplesmente, dos deliríos de uma garota insana. Aqueles que acompanham as aventuras de Kvote, todavia, verão além. Auri pode, sim, ser descrita como mentalmente abalada, mas ela não é só isso: ela aparenta carregar em si grande conhecimento e poder, a despeito de suas fraquezas. E esse, para mim, é o melhor aspecto do livro.
Nele, somos brindados com uma delicada narrativa acerca de uma personagem feminina que sofreu no passado e que tem marcas profundas de tal sofrimento. Ela, no entanto, é mais do que suas limitações. Sim, precisamos de histórias de mulheres fortes, nesse mundo ainda submetido ao patriarcado. Mas também é importante a existência de historias sobre meninas danificadas pela vida, que, a despeito de suas dores, deram um jeito (até torto, mas ainda assim, um jeito) de seguir em frente. Há heroísmo nas cicatrizes mais profundas, assim como há mais do que simples fantasia nesse linda novela sobre a misteriosa Auri.